Sobre eventuais cortes nas taxas de juro diretoras por parte do Banco Central Europeu (BCE), o Bankinter traça uma meta: setembro.
 

Os preços das casas em Portugal continuam a subir, tendo voltado a acelerar no verão de 2023, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). Será que esta tendência vai manter-se? As estimativas do Bankinter apontam para um recuo dos preços em média de 2% este ano e em 2025, ao contrário do previsto, por exemplo, para Espanha e Irlanda, onde o banco espanhol continua a antecipar subidas. Sobre eventuais cortes nas taxas de juro diretoras por parte do Banco Central Europeu (BCE), o Bankinter traça uma meta: setembro. Estas são algumas das conclusões a que chegou o departamento de análise da entidade e que constam no seu último relatório de estratégia e investimento.

Depois de subidas em 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023 – de 7,1%, 9,2%, 10,3%, 9,6%, 8,4%, 8,1%, 12,7% e 5,5%, respetivamente –, o Bankinter antecipa que os preços da habitação vão descer em Portugal em 2024 e 2025. Em causa está um abrandamento de 2%, em média, em cada um dos anos. 

Um cenário que contrasta com o previsto para Espanha e Irlanda, onde são esperadas, novamente, subidas de preços este ano e no próximo: 1,5% e 2%, respetivamente, em Espanha e 3% e 2,5%, respetivamente, na Irlanda.

Quando é que o BCE corta as taxas de juro? Em setembro...

Para combater a subida da inflação, o BCE aumentou as taxas de juro diretoras, tendo decidido mantê-las, no entanto, inalteradas nos últimos tempos – entre 4% e 4,75% desde setembro de 2023. Um aumento que teve impacto direto na subida das taxas Euribor, que por sua vez levaram a um aumento das prestações do crédito habitação. 

Christine Lagarde, presidente do BCE, não se comprometeu com datas para a realização de cortes nas taxas de juro, salientando que durante os meses de maio e junho a instituição terá muito mais dados para saber se está no bom caminho para atingir o seu objetivo de inflação de 2%. Ou seja, a diminuição deverá acontecer apenas no verão. 

Os analistas do Bankinter também não se comprometem com datas, mas apontam a mira a setembro, salientando que até lá as taxas Euribor devem permanecer estáveis. 

“Tornou-se evidente que os cortes nas taxas chegarão mais tarde do que o mercado esperava no final de 2023, exatamente como defendemos que aconteceria”, presumem os especialistas. “Não é importante acertar o momento exato em que a primeira descida ocorrerá, que será entre junho e setembro, mas sim o facto de que se vão materializar [os cortes] sem a sensação de urgência”, lê-se no documento

São duas as razões que levam os analistas do Bankinter a adiar para setembro a primeira redução das taxas de juro. “A primeira, porque a inflação aumentará temporariamente entre maio e julho. Isso deverá impedir o BCE de agir durante esse período até que se verifique que, de facto, é apenas um efeito transitório”, explica o relatório de estratégia de investimento relativo ao segundo trimestre de 2024. 

“A segunda razão que nos leva a pensar que é prematuro pensar que o BCE irá baixar as taxas em junho é que isso implicaria muito provavelmente antecipar o que fará a Fed, uma vez que pensamos que irá agir a 31 de julho, o que desvalorizaria o euro. Num cenário incerto e que, por sua vez, geraria inflação importada (especialmente devido às compras de petróleo gás, em dólares)”, lê-se no documento. Os analistas do Bankinter consideram, por isso, que é “pouco provável” que o BCE se antecipe à reserva federal norte-americana, até pelos riscos que tal situação acarretaria. 

Por fim, o banco espanhol insiste que “nenhum dos dois bancos centrais sente qualquer urgência” em baixar as taxas de juro diretoras, “uma vez que o ciclo continua a ser expansivo (declaradamente o norte-americano e muito modestamente o europeu), com pleno emprego e boa saúde dos resultados empresariais”. “A pressão que os bancos centrais têm agora para baixar as taxas é próxima de zero por estas razões. É por isso que podem demorar e entreter o mercado com dialética, sem precisar de materializar nada”, conclui.

Redação