Taxa de esforço média aumentou para 26,6%, mas ainda está abaixo do patamar de risco (50%), revela o Banco de Portugal (BdP).
 

Apesar do contexto de subida das taxas de juro, o perfil de risco dos novos clientes de crédito habitação melhorou em 2023, com 61% dos novos empréstimos a serem contraídos por clientes de baixo risco – face a 49% em 2022. Os dados foram revelados esta segunda-feira, 25 de março de 2024, pelo Banco de Portugal (BdP) no relatório de acompanhamento das recomendações macroprudenciais.

“Desde 2018 observa-se uma melhoria do perfil de risco dos mutuários que contratam créditos habitação”, refere o supervisor bancário no relatório, que destaca a “redução da percentagem de crédito concedido a mutuários de risco elevado e um aumento da percentagem concedida a mutuários de risco baixo”.

“Esta evolução deve-se principalmente ao aumento da percentagem de novas operações de crédito habitação com um rácio LTV inferior ou igual a 80%, num contexto de aumento de taxas de juro e preços da habitação”, justifica.  

Um cliente de baixo risco significa que tem uma taxa de esforço inferior ou igual a 50% do rendimento e um rácio ‘loan to value’ (LTV) (o valor emprestado pelo banco face ao valor da casa) inferior ou igual a 80%.

Em 2023, o crédito habitação concedido a clientes com risco elevado (taxa de esforço superior a 60% e rácio ‘loan to value’ superior a 90%) foi 3% do total (a mesma proporção desde 2020) e a clientes com risco intermédio 36% do total (abaixo dos 48% de 2022).

 

Taxa de esforço média subiu para 26,6%

O rácio DSTI (sigla inglesa para ‘debt service-to-income’, correspondente ao grau de esforço financeiro do mutuário associado ao pagamento da dívida) médio das famílias que contrataram empréstimos para compra de casa em 2023 fixou-se nos 26,4%, face aos 24,2% do ano anterior.

O aumento “é justificado, em larga medida, pelo contexto de taxas de juro elevadas dada a dominância do crédito habitação a taxa variável em Portugal”, indica o BdP. Ainda assim, o supervisor salienta que em 2023 “houve uma alteração significativa ao nível dos regimes de fixação de taxa de juro nas novas operações de crédito habitação própria e permanente”.

“Em 2022 mais de 80% foi contratualizada a taxa variável enquanto a taxa mista representava menos de 10%, valores que comparam com 25% e 71%, respetivamente, em dezembro de 2023. No que toca a novas operações contratualizadas a taxa fixa, a proporção manteve-se relativamente estável abaixo de 10%”, lê-se no documento.

Já a maturidade média ponderada das novas operações de crédito habitação foi de 30,6 anos em dezembro de 2023, pelo que – segundo o BdP – os bancos estão a cumprir a recomendação de fazer convergir a maturidade média para 30 anos. Ainda assim, na União Europeia (UE) Portugal tem das maturidades mais elevadas das novas operações de crédito habitação - Nos países da UE para que existe informação, a maturidade média oscila entre 20 e 27 anos.

Recorde-se que o BdP, na qualidade de autoridade macroprudencial, emitiu uma recomendação em fevereiro de 2018, dirigida às instituições de crédito relativamente aos novos créditos habitação e de consumo celebrados com particulares. O seu objetivo central é promover a adoção de critérios prudentes de concessão de crédito, visando fortalecer a resiliência das instituições financeiras e mitigar potenciais situações de incumprimento dos mutuários no futuro.

Redação